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A IMPORTÂNCIA DO AUDIOVISUAL NA INDÚSTRIA DA MÚSICA

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Seja ao vivo, 360º ou em realidade virtual, o conteúdo em formato de vídeo ganha cada vez mais relevância nas estratégias de marketing da era atual. Podendo ser acessado em qualquer momento e de qualquer lugar, o audiovisual se tornou a principal mídia nas redes sociais, quais têm programado seus algoritmos para prioriza-lo durante a entrega orgânica dos posts.

Para o mundo do entretenimento, virou praticamente recurso obrigatório. Teasers para lançamentos de eventos, transmissões ao vivo para mostrar as festas em tempo real e aftermovies para eternizar os seus melhores momentos.

O acesso aos recursos básicos para gravar ou transmitir um conteúdo em vídeo não são tão difíceis; os smartphones possuem câmeras cada vez melhores e qualquer pessoa é capaz de subir suas obras cinematográficas no Facebook ou Instagram, o que gera uma quantidade absurda de vídeos espalhados pelas redes sociais. Diante deste cenário, a maior dúvida costuma ser: como ganhar destaque em meio a tudo isso?

É nessa parte que entram em jogo dois grandes elementos: conhecimento técnico e criatividade. Sejamos sinceros, divulgar uma festa através de um vídeo não causa mais surpresa nas pessoas, especialmente em uma época de reclusão social onde somos bombardeados a todo momento por live streams. Para obter efeito com o recurso do audiovisual é preciso – assim como em diversas outras áreas – ir além e conquistar o público com produções cada vez mais inteligentes, que reúnam no produto final um conjunto de fatores que estimulem o espectador a engajar com a ideia por trás da parada (falaremos sobre isto num artigo futuro).

Na cena eletrônica, os registros de imagem em movimento já deixaram de ser um privilégio de grandes festivais ou de festas com público de maior poder aquisitivo, e ganharam espaço na cena independente, provando que até mesmo eventos menores podem alcançar reconhecimento internacional. Foi o caso dos rolês da 0dB, Concept, 4Estações e InsaniTy & Friends, festas de porte reduzido que tiveram seus melhores momentos documentados pelas lentes do Cognição Eletrônica e divulgados no Grainy e Trommel, dois dos maiores canais digitais de música eletrônica na vertente do minimal.

Para quem busca eternizar um evento ou uma apresentação de uma forma mais completa e imersiva, existem as produções multi-câmera. Na música eletrônica este tipo de produção é bem popular. Muito provavelmente você já assistiu algum dos vídeos da BE-AT.TV ou da DanceTelevision (antiga DanceTrippin’), que registram DJ sets e Live acts completos em festas ao redor do mundo. Ou então alguma das produções deslumbrantes do projeto francês Cercle ou do brasileiro Soundscape, que gravam apresentações musicais nos mais diversos e inusitados lugares possíveis.

O valor cobrado por este tipo de produção pode variar de acordo com alguns fatores, como quantidade de câmeras utilizadas, profissionais envolvidos, especificações técnicas dos equipamentos, se é transmitido ao vivo ou pós produzido, se o local de gravação é de fácil acesso ou remoto, e por aí vai.

Um ponto importante para quem contrata um serviço multi-câmera é a distribuição. Se você desembolsa uma grana em uma produção como esta, é provável que queira que ela atinja o maior número de pessoas possíveis, e não apenas a sua audiência, certo? Para isso existem canais especializados neste tipo de serviço, como é o caso da própria DanceTelevision, marca holandesa com mais de 20 anos de história na cena eletrônica.

A DanceTelevision é a responsável pela distribuição das produções multi-câmera do Cognição Eletrônica, e foi graças a ela e sua rede de fan pages no Facebook com mais de 7 milhões de seguidores, que conseguimos atingir números bem satisfatórios em nossas transmissões, como foi com os sets que gravamos no Time Warp Brasil 2018 e 2019, que foram transmitidos até em canais fechados da TV europeia. Anos atrás, se falássemos que uma agência brasileira especializada em música eletrônica “underground” teria suas produções veiculadas em canais de TV da Europa, provavelmente soaria como loucura, mas hoje pudemos comprovar que é completamente possível.

Já que o assunto é audiovisual na cena, precisamos citar FRA909, famoso videomaker italiano que, infelizmente, faleceu em julho de 2020. Francesco Porfiri foi um dos pioneiros na área, profissionalizando a produção de vídeos de clubs e festivais underground e inclusive sendo considerado o criador do formato “aftermovie, hoje bastante popular. Em sua carteira de clientes, colecionou edições da Time Warp, Cocoon Records e BPM Festival, além de registrar inúmeros momentos de grandes artistas como Ben Klock, Dubfire, Richie Hawtin, Carl Cox, entre outros.

Outra figura popular nessa área é o também italiano Luca Dea. Viajando pra lá e pra cá atrás de grandes festas de e-music, Dea registra de forma não profissional a performance de centenas de artistas de renome e festivais conceituados – Circoloco, Sunwaves, festas em Ibiza, Peggy Gou, Nina Kraviz e The Martinez Brothers, pra citar alguns. Seus vídeos são publicados em suas páginas no YouTube, Facebook e Instagram – que juntas somam quase 150 mil seguidores – e pouco depois já estão percorrendo diversos canais pela internet.

São materiais assim, como os exemplos de FRA909 e Luca Dea, que movimentam páginas e mais páginas em redes sociais especificamente dedicadas a este tipo de conteúdo. Vídeos compartilhados em fan pages como a Techno Live Sets, Mr. Afterparty e Trancentral confirmam através dos números de visualização e compartilhamento dos posts a existência de um mercado gigante disposto a consumir este tipo de material. Do lado nacional, a Techno Perfect, Go Techno e SSKN são algumas das que se destacam no segmento, além de grupos como o Technera (com mais de 60 mil membros), onde circulam basicamente apenas vídeos amadores da galera que frequenta o rolê — vídeos estes que atingem números de visualizações e engajamento superiores a muita publicidade paga por aí.

Esta capacidade de “viralização” que as mídias sociais proporcionam estão remodelando as formas de publicidade tradicional que conhecemos. Hoje em dia, ter um vídeo viral no Facebook batendo a casa do 1 milhão de views não é uma tarefa impossível, principalmente se você conhecer alguns “gatilhos” e entender como a engrenagem da plataforma funciona.

Estes novos meios de distribuição de conteúdo refletem também no comportamento do público. Muitas marcas atualmente estão optando por divulgar seus produtos ou serviços através de nanoinfluenciadores (perfis que possuem até 10 mil seguidores e não carregam uma imagem tão comercial) ao invés de grandes influenciadores digitais. O motivo? As pessoas estão conseguindo discernir melhor a autenticidade da informação — quanto mais artificial ela for, menor a chance de trazer resultados. Neste ponto, os virais são um bom indicador de relevância do conteúdo, já que, se o algoritmo interpretou que ele merecia ser distribuído, é porque houve interesse real por parte de um grupo de pessoas.

Pouco tempo atrás, publicamos aqui no site uma lista com 11 produções na Netflix que todo fã de música eletrônica deveria assistir, e entre as indicações estava o episódio 3 da primeira temporada de ‘Abstract: The Art of Design’, que apresenta o trabalho da britânica Es Devlin, uma das maiores cenógrafas do mundo. Em certo ponto do episódio, Es faz um comparativo de como os shows de música eram registrados antes e depois de 2003. Em tempos passados, a maioria das imagens eram feitas por fotógrafos e videomakers profissionais que ficavam basicamente em frente aos stages. Hoje, o público do show que é o grande responsável pelo registro das imagens, feitas com seus smartphones dos mais diferentes ângulos possíveis. Es então começou a levar este novo comportamento em consideração no momento de projetar os seus cenários, pensando que eles deveriam funcionar independentemente da posição em que o espectador estivesse e que deveriam se adequar ao formato da tela dos smartphones — afinal, são estes registros que irão tomar a internet mais tarde e causar ou não uma boa impressão do evento àqueles que não compareceram.

Neste período da pandemia também foi possível notar como diversos gêneros musicais que não tinham tanta intimidade com produções audiovisuais transmitidas pela internet, como o Sertanejo e o Funk, começaram a direcionar seus esforços a elas e, literalmente, foram aprendendo na prática o que deviam ou não fazer. Em outro ponto deste multiverso musical estavam os geeks da música eletrônica, que há tempos já usavam as live streams como principal ferramenta de apresentação online. O resultado disso: DJs se transformando em hologramas digitais e se tele-transportando para outros locais, sem sair de casa, produtores musicais interligando suas controladoras MIDI com os efeitos visuais do vídeo, que apareciam na tela de acordo com o som produzido, e até locações reais de festas sendo fielmente digitalizadas para ambientes virtuais — como foi o caso da Gop Tun e da Sala28, que escanearam um famoso pico de festas em São Paulo e fizeram um evento virtual interativo em uma versão psicodélica do local (leia a matéria aqui).

Diante de tudo isso, não restam dúvidas do papel fundamental que o audiovisual exerce, não apenas na cena eletrônica, mas na indústria de entretenimento como um todo. A mídia em vídeo proporciona uma maior proximidade de uma marca com seu público e, quando bem feita, é capaz de passar uma mensagem de uma forma muito mais eficaz, se comparado a outros formatos. Junte tudo isso à independência que a internet nos trouxe e temos o mundo inteiro ao nosso alcance.