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POR DENTRO DA CASA DOS SONHOS DE TODO DJ

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Estantes recheadas de discos, um sistema de som capaz de inundar um ambiente de mais de seiscentos metros quadrados, uma decoração vultosa e um design de espectro grandioso – em poucas palavras é possível resumir a morada perfeita para qualquer DJ ou produtor musical. 

Aliás, não é sequer preciso ser um compositor ou musicista pra sentir no mínimo curiosidade em conhecer um espaço assim, basta gostar de música, de arte, e alguns minutos com os pés no lugar descrito anteriormente torna-se algo atraente. Locais como estes existem de verdade e estão espalhados por aí, muitos, provavelmente, quase secretos, desconhecidos aos olhos do público, mas não é o caso do esplendoroso loft do DJ Danny Tenaglia.

Danny é um dos pioneiros na House music – em meados de 1985 deixou Nova Iorque, sua cidade natal, e partiu rumo a Miami, onde oficialmente deu início à carreira como DJ. Pouco tempo depois, entediado com apenas o papel de reproduzir música alheia, se jogou na produção musical, chegando a fazer remixes de sucesso de grandes artistas da época, como a faixa “Emergency on Planet Earth”, de Jamiroquai, e “Human Nature”, da Madonna. 

Ainda criança, quando teve seus primeiros contatos com os discos de vinil, já sentia um apreço especial pelo lado B da parada, e ao longo de sua carreira sempre destacou sobre o peso que suas influências musicais sempre tiveram em suas produções e seleções. Amante de sons que vão do latino ao disco, Tenaglia alcançou patamares como poucos na indústria da música eletrônica: já foi nomeado ao Grammy pelo remix “I Feel Loved – Depeche Mode”, venceu três vezes o IDMA (International Dance Music Awards); levou o DJ Awards também por três vezes; e foi bicampeão no Muzik Awards.

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Mas não é só a grandeza das premiações e a amplitude da fama que conquistou como artista que fazem parte da vida de Tenaglia, figura de traços ítalo-americanos também graúdos. Prova disso é a magnitude do seu luxuoso loft situado em New York City, no bairro industrial Long Island City, uma das regiões nova-iorquinas consideradas mais nobres. 

O lugar é inteiramente equipado para atender os mínimos anseios de qualquer produtor musical e fazer brilhar os olhos dos que tenham a sorte de poder conhecer o local de perto. Entre as paredes do ambiente, se escondem – e se revelam – mais de 40 anos de música eletrônica. Isso porque ali dentro, mais do que um espaço bacana, é a morada de relíquias de um cara apaixonado por música – coleção de mais de 20 mil discos de vinil, fitas cassete, mixers de várias eras, marcas e modelos fazem do loft do Danny Tenaglia uma espécie de mini-museu fonográfico.

O que se tornou uma combinação de estúdio e lounge voltados à e-music, já foi uma enorme sala crua de uma fábrica de paredes gélidas e piso de cimento. Foi ali que Danny vislumbrou o espaço perfeito para começar a construir aos poucos seu refúgio musical. 

Há quase duas décadas, após o fechamento do clube “Arc” (antes chamado “Vinyl”, onde Tenaglia foi DJ residente nas noites intituladas “Be Yourself”), os então proprietários do clube fizeram à Danny uma proposta que ele não poderia recusar: lhe ofereceram a compra do sistema de som da casa, que segundo ele mesmo, já era considerado um puta sound system na época. Em posse dos equipamentos, surgia a missão de encontrar o spot que suportasse a potência de toda aquela parafernalha, e essa foi a grande motivação inicial para Tenaglia dar start no que viria a ser uma das bases musicais mais requintadas (e desejadas) que se tem conhecimento. 

No total o loft contabiliza quase 2 mil metros quadrados. Olhando o ambiente interno de cima, numa perspectiva panorâmica, o espaço gigantesco parece ser uma salão de dança. E já foi – em 2013 o “apê” foi palco de uma gig da Boiler Room, com Tenaglia tocando e a galerinha se divertindo na “pista”. Salinha de cinema, uma copa elegante e um terraço com uma vista absurda para a Queensboro Bridge são  d e t a l h e s  que valorizam mais ainda o ostentoso estúdio-lounge.

Em 2015, Danny anunciou em suas redes sociais algo que poderia ser a realização de um sonho de vários artistas que trabalham com música – o loft passaria a ficar disponível para locação temporária. Ou seja, produtores, DJs e demais players que tivesse interesse – e condições financeiras para bancar o valor do aluguel, provavelmente bem salgado – teriam a oportunidade de conhecer de perto o espaço incrível e trabalhar em suas criações rodeados pelos elementos inspiradores que compõem o loft de Tenaglia. 

Infelizmente, parece que o sonhos das portas abertas do loft não foram muito longe. No começo de 2018 Tenaglia noticiou mais uma vez através de suas mídias sociais que após 15 anos de muitas histórias, estava passando para uma nova fase, e colocaria à venda a maior parte dos itens do loft de luxo.

Entre fãs e curiosos, alguns se manifestaram preocupados com a situação pessoal do artista, inclusive questionando-o publicamente se algo de errado estava acontecendo, enquanto outros compreenderam que às vezes as pessoas simplesmente decidem fazer um “downsize”. O próprio Tenaglia já havia explicado ao anunciar o fim do estúdio-lounge gigante que estava adentrando um novo momento, em que não sentia a necessidade de estar rodeado por um milhão de equipamentos para poder trabalhar com sua música. 

Quem viu… viu. Aos demais, resta a imaginação de como seria passear por um santuário da música eletrônica.

TEXTO: ANNABEL GRIGNET

Redatora oficial do Cognição Eletrônica, jornalista inquieta, discente em Música pela UNILA e foliã na cena eletrônica da fronteira de Foz do Iguaçu.